terça-feira, 22 de março de 2011

Manifesto futurista de Marinetti sobre a guerra!


Em seu manifesto sobre a guerra colonial da Etiópia, diz Marinetti: "Há vinte e sete anos, nós futuristas contestamos a afirmação de que a guerra é antiestética... Por isso, dizemos: ...a guerra é bela, porque graças às máscaras de gás, aos megafones assustadores, aos lança-chamas e aos tanques, funda a supremacia do homem sobre a máquina subjugada. A guerra é bela, porque inaugura a metalização onífica do corpo humano. A guerra é bela, porque enriquece um prado florido com as orquídeas de fogo das metralhadoras. A guerra é bela, porque conjuga numa sinfonia os tiros de fuzil, os canhoneios, as pausas entre duas batalhas, os perfumes e os odores de decomposição. A guerra é bela, porque cria novas arquiteturas, como a dos tanques, dos esquadrões aéreos em formação geométrica, das espirais de fumaça pairando sobre aldeias incendiá-Ias, e muitas outras. Poetas e artistas do futurismo ... lembrai-vos desses princípios de uma estética da guerra, para que eles iluminem vossa luta por uma nova poesia e uma nova escultura".

Walter Benjamin - Magia e Técnica, Arte e Política, ed. brasiliense. cap. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. pg:196

primeiros ensaios: fotos de Jorge Itaitú



sexta-feira, 18 de março de 2011

Das Palavras de Márcio... designer de luz do projeto Fricção

pós ensaio dia 18 de março de 2011

FRICÇÃO NOS OLHOS E NOS 7 BURACOS DA MINHA CABEÇA

Um barulho de cidade compassado... de construção! Marcação da vida que continua. O tempo do “tudo ao mesmo tempo”, tudo na frente dos olhos, tudo das gentes na gente...

é só olhar no espelho, se perceber...
Olho pelo espelho do olho de outro, outra pessoa. As minhas metáforas entram pelas portas dos olhos e cabeça. Criam um espaço no entendimento, e transforma as coisas. Me coloco a fruir, a degustar, a friccionar olhos e cabeça, interno e externo... e fricção vira encontro, vira opostos, vira pé no chão!
Ponho-me a olhar... começa o ensaio, Isaura pára de frente ao espelho, se olha, se coloca... a música preenche o espaço, a vida lá fora está acontecendo. E eu fico ali, a olhar Isaura, e Isaura no espelho, e começo minha sucessão de “os” e “as”:
A guerra
O algoz
A vítima
A deformação
A cidade
O “ao redor”
A vida que passa longe tão perto
A mulher
O espelho
As palavras
O não entendido
O peso
O espaço modificado
O belo na sua idéia de beleza
A exposição
O interno no externo do interno
A dominação
A tensão no corpo, do corpo, do suor, dos músculos... a tensão que tá na cabeça, na imagem... nos ecos
A arte, que está no fazer e no representar, o discurso de um discurso... e de outro e outro...
Agora, ao escrever, me vem “o sOl é umA estrelA!”.
Na lembrança me vem a sensação...
A impressão do misto de coisas no espaço. O “olho pra ela que sou eu”.
O discurso no corpo, o se colocar à “viver o que se propõe”, esse estado já gera em mim um interesse, um preenchimento, uma coerência! Gosto de ver as coisas se misturando, transformando-se umas nas outras... Dando a possibilidade de uma ser a outra!
Então tudo pode ser tudo! Uma colcha de retalhos, nós que somos vários!
A sutil forma de fazer “Hitler”, os mil significados de sedução, se seduz... se colocar, escolher o papel da vítima, a vítima de tudo aquilo!... tudo se deforma, o corpo se deforma de partes dele mesmo...
e há beleza nisso?
O Bellmer no corpo! Ao vivo! In loco! A deformação colocada com outras palavras e metáforas! O corpo repartido, as partes de um todo! Os pedaços recolocados, remontados numa nova pespectiva.
Uma guerra! Várias guerras! Está aí, o tempo todo! De dentro para fora, pra dentro e pra fora... num ciclo interminável, nas perguntas de ação.
O clima de... O espaço de... Os corpos de... O peso de...O estado de...
A guerra instaurada, estetizada, colocada na frente dos olhos! A direção dos olhos rumo aos entendimentos/sentimentos!
Muita coisa!
Muita muito!

A luz começa a aparecer, recortando, resignificando, relendo e relevando o corpo!
A fricção de cor e branco, de horizontal e vertical, de escuro e claro. O piscar de olhos! As maneiras que se encontram pra criar tensão, a tensão que já se está. Fazer as questões aparecerem e desaparecem no espaço, nos olhos, no corpo.
Ajudar a tornar o espaço corpo, denso, visível. Friccionar as brechas do corpo com luz, com rastro que cria sombra, que cria sobra! O espaço que pode se tornar visível, que pode esconder Isaura, que pode revelar outra parte ou partes ou a própria imagem de Isaura!
Daí, tudo se discute...
Tudo fricciona
Tudo vira guerra





Tudo vira o que o olho reconhece, estranha e procura...

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Fricção... novas investigações... Projeto aprovado pelo Prêmio Festival Internacional VIVADANÇA 2011 5ª edição - Teatro Vila Velha

Fricção* trata-se de um projeto solo em dança que tem como argumento a fricção entre imagens de guerra e o universo erótico. A partir de fotografias de guerras como no caso da famosa e violenta imagem da criança que corre nua e desesperada com o corpo queimado de napalm** na guerra do Vietnã, ou da figura firme e ardilosa do Hitler em “situação de poder” proponho um olhar erotizante sobre a guerra. A relação dessas imagens define o estado de atuação do meu corpo decorrente da utilização de próteses externas constituídas de materiais rígidos e móveis, que produzem múltiplas qualidades de movimento e desvios de corporalidade. Essas próteses serão estruturas com rodas pequenas distribuídas/acopladas em diferentes partes do corpo (principalmente na região posterior), sendo que algumas colocadas estrategicamente terão sistema de fricção, o que possibilitará maiores impulsos e arremessos do corpo no espaço, bem como, brecadas violentas, além de deslizamentos fluidos em nível com o chão. Aqui, aparece a relação corpo-máquina explicitada em Crash, tanto no livro de J. Ballard quanto no filme de Cronnemberg, atmosfera ficcional que nutri-se do erotismo por velocidade e colisões entre automóveis. O espaço cenográfico do trabalho será estabelecido pelo recurso da iluminação e disposição de objetos que são superfícies para diferentes texturas (leite, espuma, entre outras ainda não definidas). O estudo da luz será desenvolvido no trabalho para criar recortes sobre o corpo de maneira a contrapor partes deste corpo, como nas figuras do artista plástico Hans Bellmer*** - que também será fonte inspiradora para criação de corporalidade na obra. O design de luz em Fricção terá constante diálogo com a ambiência sonora feita pela DJ presente em tempo real, formando um jogo sensorial de superposição de luz, imagens projetadas e sonoridade, em movimento lento ou frenético, delimitando assim, a trajetória do corpo em luz ou sombra. O que se pretende é uma experiência sinestésica. A mediação entre máquina-tecnologia--guerra-corpo será então marcada de erotismo, abusando do senso estético. As imagens de Leni Riefenstahl - cineasta e fotógrafa que produzia as imagens de propaganda do Nazismo - sobretudo no filme O triunfo da Vontade, serão interpretadas como estetizantes do corpo bélico fascista. A guerra apresentada como extensão da política ou um estado de exaltação da mesma, não mais como uma exceção espetacular, mas principalmente ordinária, cotidiana e estetizada, é que gera a complexidade de pensá-la nos dias atuais, e fará dessa investigação cênica em dança um campo fértil de imagens e história. Nessa perspectiva o corpo aciona estados de violência e posturas de poder ao mesmo tempo em que erotiza. A alternância desses estados, dinâmicas e qualidades corporais ultrapassam a pura representação ao compor com a imagem e provocar nuances do movimento a partir da analogia entre as duas imagens propostas - menina no Vietnã (fotografia)/ Hitler discursando (filme) - que nesse sentido, irão friccionar períodos e contextos bélicos distintos. As relações expostas aqui, entre referências históricas e artísticas parecem formar uma rede de sentidos para a imaginação estética que vem compondo esse processo criativo em dança, que parece ser formado por recortes/partes, nesse caso a composição será organizada de maneira a friccionar partes cênicas aparentemente separadas.


* Fricção (força resistindo o movimento relativo de duas superfícies no contato, ou em uma superfície no contato com um líquido. Esfregação, Atrito. Para o general Clausewitz é um conceito na guerra: “A fricção, ou o que aqui chamamos assim, é, portanto o que torna difícil o que na aparência é fácil". “A fricção é o único conceito que distingue a verdadeira guerra daquela que se faz sobre o papel”)
** Napalm foi desenvolvido em 1942 durante a Segunda Guerra Mundial nos Estados Unidos por uma equipe de químicos. São fluidos incendiários (tais como os usados nos lança-chamas) que salpicam e escorrem muito facilmente devido à sua baixa viscosidade.
*** Hans Bellmer, artista plástico alemão surrealista. Como repúdio ao fascismo e a estética da propaganda Nazista, cria meninas bonecas tridimensionais em poses eróticas.

Ficha Técnica:

Concepção e Performer: Isaura Tupiniquim

Orientação conceitual: Washington Drummond

Design de luz: Márcio Nonato

Design de próteses: Gaio Matos

DJ e ambientação sonora: Lívia Drummond (Lívia Losd)

Apresentações confirmadas para os dias 14,15,16 / 28,29,30 de Abril ás 20hs no Teatro ICBA.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

entrada... por wodrum. apresentação realizada em jacobina para o grupo de pós-teoria da UNEB

imagens de celular (pixels) que não foram feitas diretamente da performance. mas de imagens reproduzidas em tela de notebook. uma "captação" técnica sobre outra "captação" e exposição técnica como se as máquinas pudessem simular o nosso processo interpretativo através da captações sucessivas.(e exposições sucessivas).........a idéia é criar imperfeições e sugerir um espaço aquático...............................

domingo, 10 de outubro de 2010

Entrada ao Preço da Razão

Entrada ao preço da Razão - Circulação Nordeste com Núcleo Vagapara - Projeto de Solos e Coletivos 2011/2012


Trecho Entrada ao preço da razão - Circulação interior da Bahia / Bom Jesus da Lapa 2011
http://www.youtube.com/watch?v=oLDbG20dK2k

Trecho Escola de Dança UFBA 2009
http://www.youtube.com/watch?v=R1puo0sLGac


Mudanças no Processo criativo:



Com a impossibilidade de deslocamento que a estrutura das caixas estabelecia ao trabalho Entrada ao Preço da Razão, fui deliciosamente obrigada, com a minha ida ao TEOREMA – São Paulo, a readaptar as idéias que emergiam do trabalho, bem como, a estrutura ambiência que comportava a performance. Considerando fundamental a relação do corpo com os arames, encontrei junto ao professor David Ianitelle – UFBA, um novo material que daria nova cara/estética e novas relações conceituais ao trabalho.


2008/2009
Agora a estrutura é metálica, instável e a fragmentação passa a ser apenas de ordem corporal, essa máquina metálica atribui um diálogo muito mais evidente quando se trata da modificação de um pelo outro, ou seja, o corpo manipula/modifica a estrutura e é manipulado/modificado por ela. Sendo assim, a estrutura ambiência está como extensão do corpo, como prótese, isso me levou a uma confirmação que já presumia, o aparelho do estado no sistema capitalista é onipotente, onipresente e a liberdade não existe. Finda o sonho da modernidade... E se ela é líquida*, a modernidade, as cidades precisam ser destruídas, pois a prática sensível do corpo humano com sua produção subjetiva e desintegradamente construída pela imposição espetacular da sociedade de consumo que constrói e planeja ordenadamente cada tijolo de um edifício “edifincado”, pressupõe que toda liquidez está apenas no campo psicológico.



[A imortalidade das instituições, e o medo da morte – Bauman]

Na Colônia Penal de Kafka, sugestão de leitura do professor Washington Drummond, após ter contato com meu trabalho, fez transbordar todas as micro macro relações de poder, das penas sobre o corpo que preserva a máquina infalível (aspiração moderna), numa verdadeira desumanização do homem. - O Livro narra à história de um explorador que, durante visita a uma colônia francesa, presencia o sistema empregado na execução de um soldado acusado de insubordinação. O sistema que o condenou está baseado numa doutrina jurídica arbitrária, em que o acusado não tem direito à defesa. Quem administra essa "justiça maquinal" é um instrumento de tortura que escreve lentamente sobre a pele, no corpo do condenado, com agulhas feitas de vidro, a sentença do crime que, muitas vezes, ele mesmo não sabe que cometeu.

"Andei e ando passeando por Foucault", e com ele, vou construindo pra mim mesma, o caldo teórico que o processo de criação dessa obra insita sobre as relações de poder e o histórico das penalidades e formas de manipulação/vigilância do sujeito, e isso que apresento aqui não se trata de uma legenda para o trabalho. É antes de tudo um exercício de reflexões sobre o mundo que tem como parâmetro o campo da arte, e isso é parte da minha formação e da consistência que desejo dar a construção do meu fazer artístico.

ops: na barra de vídeos do you tube que encontra-se no final da pag. desse blog, estão disponíveis algumas imagens (toscas) desse trabalho, apresentado em 2008 no teatro do movimento - escola de dança- ufba.